domingo, 11 de julho de 2010

Vou ser canalha (or #NOT)

Chega de ser feita de idiota, de deixar as pessoas acharem que mandam em mim e que tem um poder que só eu posso ter. Chega de ser alimentada por falsas esperanças, falsas pessoas, falsas procuras e falsos sentimentos.

Vou me colocar à frente dos outros, não pensar no sentimento alheio e vou ser rude, quando tiver de ser rude. Estou cansada de enxergar coisas que não existem (sim, a culpa é minha e eu não me redimo dela) e de alimentar frustrações.

A partir de agora vou ser feliz. Cansei de buscar isso de diversas formas e cair numa fórmula frívola de chegar a lugar nenhum. O que me resta?
Eu vou ser canalha (#NOT)
.
.
.
.
Não vou ser canalha. Sempre ajo com os outros a forma que quero que ajam comigo. Aprendi desde pequena e isso não vai mudar, agora, aos 34 anos. E quer saber? Não quero que isso mude. Eu não suportaria sacanear alguém. Não fiz isso nem com pessoas que mereceram.

Só quero achar um meio termo pra essa história toda.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mãe

Há exatamente dois anos, passava os últimos momentos com a minha mãe. Dona Marina era guerreira. Ficou viúva cedo, veio pra São Paulo com os três filhos pequenos. Viveu da ajuda dos meus tios que já estavam aqui e acordava às 4h da manhã, todo dia para deixar comida pronta pra eles, antes de sair pra costurar.

E como costurava essa moça. E era tão bonita... Nunca teve voz alta pra falar de ninguém. Vá lá que às vezes errava em algum comentário, até por ignorância. Gostava de todo mundo. E ai de quem ela não gostasse: podia confiar que a pessoa não prestava em algo.

Lembro tanto que, quando ela perdia o sono, ia pra cozinha fazer pão. Em casa, meus irmãos e eu, acordávamos com aquele cheiro delicioso. Lembro bem também do zelo que ela tinha com todos e com a pergunta constante de: "filha, você não vem pra casa?" quando eu já morava fora de lá há algum tempo.

E ela contava mil vezes as mesmas histórias de quando era criança lá em Malacacheta, nortão de Minas Gerais e brincava na rua, sem luz, no sereno "porque o sereno daquela época fazia bem".

Mas tanta bondade, tanto ressentimento e uma depressão que ela fingia não ter a fizeram doente. Era um problema grave no coração. E foram anos e anos de sofrimento. Ela agüentou um bom tempo a falta do meu irmão, que morrera em 1985. E eu, que tinha só dez anos à época, já tentava suprir essa carência de algum jeito.

Não dava, não é? Ela falava: “porque eu tinha que perder um filho? Os pais devem morrer antes”. E ela foi guerreira não só nesses momentos: aguentou também as ‘crapulanisses’ e cachorradas do meu pai (nunca teve sorte com os homens, visto que o primeiro marido deus deve ter levado logo pra dar sossego à vida dela).

E viveu. Fez de tudo para que vivêssemos felizes, mesmo quando estava triste. Tinha medo de deixar transparecer isso. Exceto quando fazia manha. Era manhosa demais. E turrona. Com jeitinho, fazia com que caíssemos em suas armadilhas de sedução de mãe.

E, como qualquer ser humano de bom coração, gostava demais de dar e receber carinho. Deixou saudade em um monte de gente.

Mas foi quando o coração já não aguentava mais, no dia 6 de julho de 2008, que ela parou de funcionar. Já não estava mais funcionando do jeito que ela gostava; do jeito que nós gostávamos. Sofria, chorava. E chorávamos juntos, toda vez. Seria possível alguém com tanta vitalidade e independência ter que ter alguém por perto pra fazer tudo por ela?

Não, não seria. Não seria justo com ela, principalmente. Porque ela tinha defeitos de monte (quem não tem? ) surtava com coisas à toa, mas queria o nosso bem. Assim como nós a queríamos bem.

Ela também fingira que não aceitava minha homossexualidade. Balela: tratava minhas namoradas como filhas.

Quero que você esteja bem, minha mãe. E pode deixar que vamos cuidar do Nicholas e de todo mundo por aqui. Sei que você nos vê e torce para que tudo dê certo sempre, como sempre torceu.

Um dia eu te encontro e vamos dar risadas gostosas de tudo isso. E pode saber (porque sei que você sabe) que quando eu crescer, quero ser igual a você.

Eu te amo e isso nunca vai mudar.